Balasar chega a Mahakan, ao cair da noite, sobrevoando-a até o ponto de pouso. Nesse percurso, enquanto observa de cima, admira os grandes anéis e suas torres, lançando suas luzes sobre as montanhas que abraçam a grande cidade. A sensação de calor passa por sua mente, contradizendo o forte e frio vento do céu noturno. As grandes aves começam a descer, rumo ao anel mais iluminado, no centro de todos os outros. As aves se aproximam de uma construção maior, com uma abertura na parte de trás, o que mais de perto, era possível perceber ser duas grandes portas e dentro da construção, já iluminada, o “estabulo” onde os grifos permaneciam ou eram treinados.
Pousaram em um local central, com o piso mais claro e limpo. Balasar desceu do grifo, mas permaneceu escorado, segurando uma das amarras da cela, como já havia feito várias vezes, durante o percurso.
“Deixe me ajuda-lo” – Disse o forte homem, que descia da outra ave, se aproximando para alcançar o draconato, que nada respondeu. O homem se pôs ao lado de Balasar, envolvendo um de seus braços, enquanto o draconato passou seu braço sobre o ombro. Começaram a andar, rumo a uma sala a frente, com dificuldade. Um sofria por suas feridas, o outro, pelo peso sobre seus ombros. O homem ajudou Balasar a se sentar em um banco de madeira, próximo a saída do estabelecimento. O mesmo saiu da sala e voltou com a grande mochila que carregavam os pertences do contratante.
“Obrigado, pelos seus serviços. ” Disse o draconato, enquanto acenava com a cabeça.
“Eu é quem agradeço pela preferência. Espero que encontre o que procura. ” Disse o homem, deixando a mochila próxima. “Vai precisar de algo mais? Uma carroça para leva-lo? ” Observando a expressão do clérigo, que assentiu com a cabeça, que sim. – “Um momento, sei quem pode leva-lo, por algumas moedas. ” O homem saiu, para a rua, e voltou alguns minutos depois, acompanhado de uma carroça. O Carroceiro, um anão, guiava uma carroça de um eixo, presa a uma mulinha. – “Há, parece que a vida de aventureiro não anda fácil...” Caçoou o anão, ao ver o draconato, que se levantou apoiando a parede. Balasar expressou a face de alguém descontente com o comentário, mas não poderia discutir com o anão. Sua situação era precária e no momento, seu único desejo era chegar ao templo. O Anão se pos ao fim da carroça e ajudou o humano a subir o dragonato. Depois da tarefa difícil, o humano entrou no estabelecimento, voltando em seguida e entregando a mochila a Balazar. “Passar bem! ” Com um gesto de cabeça, saindo de perto da carroça, enquanto a mesma começou a andar, ao som de cascos.
Durante o percurso, o Anão tentou puxar papo, mas nada conseguiu, em resposta. Entre o silencio em sua mente, as indagações do anão e o barulho da cidade, Balasar refletiu sobre a derrota. Em sua reflexão, definiu coisas que tinham que ser resolvidas. Sua Honra para com Bahamut. A segurança de Leinad. E para conseguir ambas, Bartolomeu tinha que ser derrotado.
Chegando ao templo, retirou as moedas que sobravam na bolsa, poucas peças de prata e cobre, e entregou ao anão. Se apoiou na borda da carroça e se jogou para baixo, caindo, pela falta de apoio. O anão, insatisfeito pela por ter sido ignorado a viagem toda, jogou a mochila ao lado de Balasar e tratou de sair andando.
O draconato também aceitou sua situação e seguiu rumo as escadarias. Uma mão puxando a mochila, enquanto ajudava a outra a apoiar no chão e engatinhar como podia. Na base da escada, uma criança se dispôs a ajuda-lo. Um gnomo, com sua altura ou força não foram de grande ajuda, mas de algum jeito, os dois conseguiram subir a escadas. La no topo, nos últimos degraus, uma voz atravessou o salão que viria a seguir.
“Por Bahamut, você vai me contar o que aconteceu! ” A voz de outro draconato brigou com os passos pesados que aumentavam com o aproximar das escadarias. O sacerdote tratou de ajudar o draconato a ficar de pé, acenou para o gnomo, deu lhe algumas moedas de prata. Ambos seguiram para dentro do templo, até um dos quartos onde Balasar já havia passado a noite. La dentro, a mochila foi colocada em um canto. A criatura coberta de escamas prateadas necessitou de ajuda para retirar todas as partes metálicas da armadura. Depois, sentou-se na cama, enquanto o outro puxou uma cadeira. E a conversa se estendeu por horas.
O Draconato de prata contou sobre as últimas aventuras e o que descobriram em Calyphais. Também contou sobre suas suspeitas, sobre Bartolomeu ser um vampiro. Quando começou a perguntar como poderiam lutar contra ele, Khalid levantou, acenou negativamente com a cabeça. – “Hoje não, muito menos amanhã. Entendo que quer ter sua honra de volta, mas por Bahamut, entenda suas limitações agora. “ Khalid fez uma reverencia, dos sacerdotes de Bahamut, e seguiu em direção a porta. “Sei de alguém que pode te ajudar, mas veremos isso amanhã. Que Bahamut cuide de suas feridas esta noite. ” E se retirou.
Balasar deitou e o estresse da viajem e de seus pensamentos, o colocaram no sono quase que instantaneamente.
No dia seguinte, a luz e o calor acordaram Balazar. Ao se por sentado na cama, observou que o sol já se encontrava alto. Procurou algo que pudesse ajudar a chegar nas paredes e percebeu que próximo a cama, se encontravam muletas, gastas e remendadas. Mas isso serviria. Com dificuldade, se pos de pé. Demorou pelo menos 2 minutos para chegar a porta e mais cinco, para se manter em pé e abrir a porta sem derrubar um dos lados da muleta.
O draconato passou pelo vitral que observou da outra vez e a sensação de dúvida o tomou o peito. Se obrigou a seguir em frente e foi em direção ao salão de refeições, onde imaginou que os sacerdotes estariam. E estava certo. Khalid estava ali com Bjorn e outras ajudantes do templo. Depois da refeição, Khalid lhe disse que precisaria estudar mais a possibilidade de recuperação. O dano era mais sério do que havia entendido. Mas conhecia alguém que poderia fazer uma muleta melhor da que tinham disponível, além disso, talvez esse mercador soubesse quem poderia fazer uma perna de pau.
Por volta das três da tarde, Balasar saiu do templo, em direção aos anéis inferiores. Sua dificuldade para andar o tomou mais tempo do que esperado. Chegou ao local indicado, próximo ao pôr do sol e se encontrou com Crog, um humano, trabalhando como marceneiro, para uma guilda de mercadores que controlavam o comércio inferior.
”. Olha, senhor dragão, eu posso fazer o que me pede, mas não sei se você vai poder continuar com seu estilo de vida. ” Observava Crog, o cotoco de perna, ou o que sobrava ali, enquanto o draconato permanecia sentado.
“Acha que existiria alguma alternativa pra alguém como eu, então? ” Acrescentou o prateado.
“Eu nunca vi nada diferente de uma perna de pau. Os piratas normalmente a usam, mas eles são loucos. Passar meses no mar não pode ser bom para a mente. Perdas como essa, normalmente desencorajam os viajantes, senhor. ” Crog ficou em pé, esfregando a barba rala que mais parecia pelugem. Parecia estar pensando. Foi até um dos armários e voltou com um mapa. Colocou sobre uma mesa próxima e sobrou um pequeno estabelecimento entre muitos outros.
“Acredito que se houver algo assim em Mahakan, os Continentais vão saber de algo. São uma guilda de mercadores que viaja pelo continente tudo. Há também a guia dos gnomos, famosa por invenções. “ Balasar ficou um tempo tentando recriar um mapa com um pedaço de papel e carvão que Crog lhe dera. Agradeceu o jovem com um aperto de mão, se apoiou na muleta e se levantou para sair. “Crog, voltarei para encomendar a perna de pau, se não conseguir mais nada. Quanto custaria e quanto tempo para fazer? ”. Parou balasar próximo a porta, olhando para o rapaz.
“50 peças de ouro e dez dias para fazer algo que se ajuste a sua altura. ” Respondeu proativamente, como se já tivesse calculado tudo.
O draconato assentiu novamente com a cabeça e voltou a andar. Voltou ao templo, dessa vez, evitando as escadas. Existiam alguns elevadores restritos, mas a companhia do dragão, ou pelo menos Balasar, recebeu uma exceção, quando disse quem era. Isso acelerou o processo até o templo. Já era de noite, quando o draconato passou pela porta do templo e percebeu que a missa noturna ao deus da justiça e proteção começou. Balasar tomou um dos bancos no fundo do salão e ouviu Khalid recitar as palavras de Bahamut. Internamente, recitava, acompanhando cada palavra. Havia lido e relido tais ensinamentos tantas vezes no templo e durante sua última estadia ali, que era como respirar. Depois da cerimônia, juntou-se aos sacerdotes. Propôs a Khalid que ajudasse com as cerimonias e assuntos do tempo, por algumas moedas. Era necessário juntar os custos para a perna de pau. Se uma peça comum custaria 50 moedas de ouro, algo exótico teria um custo exorbitante.
No dia seguinte, Balasar acordou cedo, para ajudar os serviçais a cuidarem da primeira refeição. Cortou alguns pães, descascou batatas e tudo o que podia fazer sentado. Depois disso, sentou-se junto a todos e aproveitou da comida. Durante a refeição, Khalid lhe deu 25 moedas, de suas próprias economias, insistido que se gostaria de ajudar com a perna. O ex monge negou o dinheiro, mas a insistência o fez combinar que devolveria com serviços ao templo.
Depois disso, saiu com o papel em mãos, em direção aos pontos indicados.
Chegar aos Continentais tomou o dia todo. Primeiro, se dirigiu aos elevadores, mas os que levavam aos anéis dos continentais estavam em manutenção. O que o fez perder tempo até voltar as escadarias, mas isso não foi desperdício. Encontrou alguns mecânicos entre os trabalhadores da reforma do elevador, do clan dos gnomos, inventores natos. Um deles disse que o mais perto do que ele queria, eram constructos, das antigas cidades dos gnomos, mas eles eram contos e história antigas, contadas entre os membros do clan. Uma imagem do esplendor da antiga era.
Na sede dos Continentais, encontrou um anão sentado no balcão. ” Boa tarde, o que o senhor gostaria de nós, os continentais? Talvez uma muleta nova? Temos ótimos trabalhadores. Os anões seriam mais adequados, uma vez que as melhores peças, passam nas nossas mãos. “ Disse o anão, com sua voz espalhafatosa, que não parecia ter intenções de parar, se Balasar não tivesse começado sua fala em alto tom.
“Boa tarde. Gostaria de algumas informações, na verdade. ” Disse o draconato, escorando no balcão de frente ao anão.
“Informações? Informações são o que nós mais temos. Viajamos pelo continente todo. Temos pessoas em todos os lados. Mas claro que tudo tem seu preço. “Voltou o anão, sem pausas.
A conversa seguiu com dificuldades, uma vez que cada pequena pergunta que o prateado falava, era acompanhada de uma enxurrada de palavras do anão, querendo engrandecer e vender qualquer coisa que conseguisse.
Depois de algum tempo tentando chegar em um acordo, o anão pegou um ábaco, ficou em silêncio por algum tempo, fez uma série de anotações e voltou a falar.
“Como eu disse, meu caro, se alguma outra guilda soubesse como fazer isso, nós saberíamos. “Riu o anão, com superioridade. “ Nada passa a existir sem que saibamos. Mas se é tão interessante assim, podemos montar uma expedição, considerando a viajem, mantimentos, os riscos, nossos melhores viajantes, cavalos…” E mais outros trinta itens que o mesmo insistiu em mencionar antes de concluir. “ Diria que lhe custaria 10 mil peças de ouro e seis… não, oito meses de trabalho, seriam suficientes… sujeito a alterações…”As últimas palavras foram quase inaudíveis.
O valor e o tempo não eram algo que a companhia tinha. Se despediu do senhor e voltou. Daqui, conseguiu encontrar um caminho para a loja de Crog. La, encomendou a perna de pau. Pagou adiantado, metade do valor e Crog mediu alguns detalhes da perna, tentando mostrar competência. Depois disso, Balasar voltou pelo caminho dos elevadores.
No templo, ceou com Khalid novamente, contando os detalhes sobre as informações que conseguiu com os Continentais e as demais guildas. Depois acompanhou-o até a biblioteca, onde juntaram os livros em potencial, para estudo, sobre vampiros.
Os próximos nove dias se resumiram a estudos diurnos, serviços nos quais as limitações do draconato não fossem limitar a suas capacidades, como cura, tratamentos simples, preparo de alimentos.
No 12º dia, Balasar foi até a loja de Crog, com o resto do dinheiro em mãos e Crog o ajudou a colocar a prótese. As amarras que prenderiam a perna contra a base da coxa, ficaram frouxas, o que deixou o artesão sem jeito, correndo para cortar, furar e refazer a parte do serviço. Foram duas horas de retrabalho, para que todos os detalhes fossem acertados.
“Desculpe, novamente, senhor dragão! “ Disse Crog, ainda sem jeito com o erro anterior.
“Não se preocupe, Crog. Fez um ótimo trabalho. Tenha certeza que vou recomendar seus serviços. ” Respondeu o dragão, observando a nova perna. Era uma peça de madeira, que começava mais grossa e oca, para juntar ao membro que restara. Descia até quase metade da espessura, onde tocava o chão. A amarras, acolchoadas. A madeira, clara e opaca, mas lustrada.
Então Crog ajudou Balasar a repassar como as amarras deviam ficar, caso ele decidisse tirar, para os cuidados básicos, como passar óleo para não deixar a madeira apodrecer e coisas do tipo. O Homem em pé, observou enquanto o outro tentava se por em pé, por momentos, tentando se por próximo para ajudar, mesmo que a mesa fosse negada.
“Não adianta, Crog, se eu não conseguir por mim mesmo, vai ser o mesmo que não fazer nada. Obrigado.” Disse o draconato, em reação aos braços que procuravam ajudar. Depois de conseguir finalmente se desbalizar em pé, mesmo que ainda sem jeito.
Os dois adultos se deram a mão, em sinal de respeito e o prateado seguiu seu caminho.
O draconato de prata seguiu para as escadas. Procurou um corrimão para ter mais estabilidade e fez todo o seu percurso, enfrentando suas novas capacidades. No templo, buscou fazer tudo o que pudesse, permanecendo em pé.
Na manhã seguinte, ceou como de costume e foi para as escadarias do templo, varrer a toda a área. Varrer era um desafio a ser conquistado. Dependia mais do seu equilíbrio, do que imaginava, para uma simples tarefa. E foi durante os serviço que conseguiu ver, ao fundo, a Companhia do Dragão, se aproximando. Apreçou-se para guardar a vassoura no interior do templo, avisar Khalid sobre a chegada dos companheiros. Seguiu para a taverna, onde imaginou que os encontraria.
Lá, contou o que havia conseguido com o templo.Assim como seus dias e Crog, que poderia nos preparar algumas estacas. Mas assumiu que não tinha dinheiro para pagar por elas, por isso não o fizera antes. Em conversa com Theron, pediu ajuda para treinar e em troca, tentaria explicar alguns conceitos de equilibro que aprendera no passado, em Faerun. Talvez suas magias fossem menos caóticas, se ele treinasse meditação. Mas isso ficaria para os treinamentos. A conversa durou até o anoitecer. Como todos iriam ficar na taverna, para passar a noite, Balasar seguiu seu caminho, sozinho, para o templo. Após cruzar a primeira quadra, teve uma sensação de ser observado e ao olhar para o telhado da taverna, quando uma figura humanoide meio desengonçada, parecia que se equilibrando, tentando permanecer de pé, com uma capa balançando ao vento, quando um vento mais forte o fez perder o equilíbrio, a tal figura pulou para outro telhado próximo e desapareceu.
Balasar sabia que não conseguiria seguir a tal criatura e por um momento, lembro de sua infância. Irilath tinha esse tipo de costume, quando vivia na rua. Ódio e desgosto anuviaram sua mente. A traição de seu amigo e o desgosto de aceitar que aquilo fora traição. Mas uma nova leva de vento veio e o tirou de seus pensamentos. Não era hora de pensar nisso.
Os dias seguintes, se basearam nos treinos matinais com Theron, o auxilio no templo e treinos esporádicos com Khalid, que o ajudavam a entender a profundidade das coisas, já que agora, dependia apenas de um olho.
No terceiro dia de treino, Balasar se encontrou com Theron no jardim, localizados atrás do templo, com uma fasta área para treinarem. Lá, Balasar entregou seu antigo bastão a Theron, enquanto segurava seu próprio. E apesar da falta de conhecimento em combate físico com bastões, Theron derrubou Balasar em seu primeiro golpe, sem dificuldades. Depois de treinarem até não conseguirem mais, seguiram para a biblioteca do templo. Lá, Balasar mostrou os livros que havia estudado. Theron passou o resto da noite estudando os mesmos livros, mas decidiu que não conseguiria mais nada deles. Iria para a biblioteca para estudar outros livros.
Os dias seguintes, se basearam nos treinos matinais com Theron, o auxilio no templo e treinos esporádicos com Khalid, que o ajudavam a entender a profundidade das coisas, já que agora, dependia apenas de um olho.