terça-feira, 2 de março de 2021

Aeghar e Elanor


Dizem que os Elfos são criaturas orgulhosas, chegam até a ser um pouco arrogantes, muitos são prepotentes. Mas também são justos, éticos e honestos. 

Em um reino de elfos da lua vivia Aeghar. Um belo rapaz que acabara de atingir a idade adulta e se tornara guarda real. Aeghar ao contrário dos demais elfos, era humilde e prestativo. Amava a natureza, mas amava muito mais servir a todos que precisassem. Não importava a hora ou o dia, Aeghar estava sempre disponível para ajudar.

Naquele ano, a Senhora da Lua, Kethryllia Valxina e seu marido Owen, ordenaram que todos os preparativos para o festival da Lua se iniciassem mais cedo, pois os Senhores dos Elfos do Sol viriam para o reino prestigiar a Lua Cheia e o festival da lua. 

Durante 2 meses, todos do reino se mantiveram muito ocupados nos preparativos, mas Aeghar se destacou tanto, que chamou a atenção de Owen, que o convidou para participar da mesa de honra.

O festival da lua acontece sempre na última lua cheia do ano, e naquele dia, no primeiro dia de lua cheia, pouco antes do nascer do sol, o reino de repente se ilumina. 

“Olhe! São os elfos do sol!” Uma mãe cochicha silenciosamente para o seu filho.

Todos olham atentos, não é comum, elfos da lua e elfos do sol se unirem.

As trombetas soam em todos os cantos.

A voz do guarda é ouvida.

- Eu vos apresento Naimur Miayarus e Loinir Miayarus, Senhores dos Elfos do Sol. A esposa de Loinir, a Rainha Nera, e a princesa Elanor, do Reino das Cidades Gêmeas.

Todos fazem uma reverência inclusive o Rei Owen que é retribuído com outra referência pelos nobres das Cidades Gêmeas.

Em seguida, Loinir e Naimur abraçam calorosamente, demonstrando que esse não tinha sido o primeiro encontro, mas o primeiro depois de muito tempo entre amigos distantes.

Aeghar vê a princesa Elanor e se admira, nunca havia visto elfos do sol, mas Elanor era muito mais bonita do que a elfa mais bonita de todos os seus sonhos. Ela tinha a pele dourada e cabelos longos e brilhantes como se o próprio sol tivesse dado de presente um pouco do seu brilho. Ela parecia emitir luz própria e ao sorrir Aeghar se sentiu enfeitiçado. Era impossível parar de olhar. 

A princesa o observa atentamente, ele não usa roupas nobres, mas está junto com os outros nobres será um empregado? Até que seus olhos recaem nos olhos de Aeghar, olhos azuis tão intensos, azuis como o céu nos dias floridos de primavera, seu coração se enche de calor ao sentir aqueles olhos que a observam. Cheiro de lírio enche o ar. 

Durante todo o dia, elfos da lua e do sol cantaram e dançaram esperando ansiosos o anoitecer para observar a Lua e absorver um pouco de suas energias para a prosperidade do próximo ano. 

Era possível observar que de tempos em tempos os olhos de Elanor e Aeghar recaiam um sobre o outro, porém nenhum dos dois tinha a coragem de se aproximar. 

Ao entardecer, todos tomaram os seus lugares. O céu azul é coberto pelo rosa alaranjado que logo é substituído pelo enegrecido azul noturno. As estrelas começam a brilhar aos poucos impacientes e ao mesmo tempo preguiçosas, logo nota-se milhares e milhares e, lá está ela, a Lua, imponente, enorme e brilhante.

Todos silenciosamente a referenciam e começam a tocar uma doce e melodiosa música em sua homenagem.

A sua cresce no céu, os elfos voltam cantar e dançar.

Aeghar se aproxima de Elanor e cochicha em seus ouvidos:

- Princesa, não posso deixar que a noite termine, a lua se esconda nos raios solares sem te dizer. Tens o mais belo olhar de todo o universo, as estrelas invejam o seu brilho. És abençoada com a cor vivida do sol em suas madeixas e a sua pele é como uma pétala preciosa. Sua presença encheu o meu peito de alegria e meu coração dá pulos incontroláveis quando te vê.

Elanor se enrubesce. Mas sob os olhares rígidos de Loinir, deixa Aeghar e volta a contemplar a Lua, dessa vez bem próxima de sua mãe Nera. 

A princesa guarda em sua mente e no seu coração as doces palavras de Aeghar, e no dia seguinte saí para uma caminhada no bosque próximo ao castelo. 

Ao receber a solicitação de passeio da princesa, o Senhor Loinir sugere que um guarda a acompanhe, e de prontidão Aeghar se oferece para acompanhá-la.

Durante a caminhada Aeghar mantém uma distância respeitosa, e nem Elanor ou mesmo Aeghar falam uma só palavra no trajeto. 

Aeghar conhece o bosque, mais que qualquer guarda, ou mesmo o rei. Por isso ele leva Elanor em lugares em que as arvores são mais bonitas e as flores são mais cheirosas.

Depois de muito tempo caminhando, Aeghar nota algo diferente no bosque, algo que nunca havia visto, mesmo caminhando todos os dias de sua vida, nunca virá nada nem parecido.

Entre duas árvores muito antigas, uma sombra enche o ar. No meio da sombra uma escada e em cada lado da escada, dois que parecem ser gatos sentados. Mas esses gatos tem o aspecto de pedra, porém facilmente se camuflam no meio das folhas, como se mudassem de cor dependendo do ângulo que se olha, os gatos não se movimentam, não piscam, apenas observam com olhos muito vividos. 

Aeghar fica paralisado olhando para aquele estranho lugar e quando se dá conta, a princesa hipnotizada se aproxima da escada. O elfo percebe bem a tempo de impedir a princesa de entrar, mas acaba tropeçando e cai escada abaixo.

Quando Aeghar entra, a escada desaparece junto com os gatos, a sombra vai embora e o sol brilha novamente.

Elanor saí do transe e se desespera ao se dar conta do ocorrido. Volta correndo para o castelo e conta o que houve.

Buscas foram realizadas, mas ninguém encontrou sequer algo parecido com o relatado pela princesa, apenas o velho e normal bosque florido de sempre.


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Eryn percebe ao final da história que os olhos de sua avó se encheram de lágrimas, a dor que Althaea sente é tão forte que até Eryn se emociona.

Com a voz embargada pela emoção, Althaea complementa, ela nunca mais o viu, ninguém nunca mais o viu. Elanor era a sua trisavó, ela viveu com o sentimento da culpa, pois não devia ter dado atenção àquela voz que a chamava na escuridão. 

Eryn rapidamente trás uma xícara de chá de frutas vermelhas e fala:

- Tome vovó! Um chá de frutas vermelhas é o melhor remédio para qualquer tristeza.

A avó sorri, abre uma pequena caixa e entrega um biscoito para Eryn.

- Não, somente o chá não é suficiente, precisa estar acompanhado de biscoitos.


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